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O Desenvolvimento: Seus Processos e Seus Obstaculos*

Published online by Cambridge University Press:  02 January 2018

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Partimos da noção de estrutura social, cuja conceituação já propuzemos, noutra oportunidade, nos seguintes têrmos: quando falamos em es- ‘ trutura social referímo-nos a urna sociedade encarada do ãngulo das relagóes dos homens entre sí e dos homens com as coisas materiais que o cercam; relações interdependentes e geradas históricamente na atividade social de produzir e reproduzir as condições essenciais de sobrevivencia do grupo. Dêsse modo, tôda estrutura social contém, no mínimo, essas tres partes, que lhe são inseparáveis: por base, urna forma histórica de produção; por corpo, um sistema de estratificação social; por cúpula, um conjunto de instituigóes e de valôres sociais — cujo escôpo é sancionar e manter, como um todo, o sistema estreitamente interdependente formado por essas partes.

Type
Research Article
Copyright
Copyright © University of Miami 1962

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Footnotes

*

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References

1 Cfr. L. A. Costa Pinto, “A Estrutura da Sociedade Rural Brasileira” Sociologia, Sáo Paulo, Vol. X - No. 2-3 (1948), pag. 156 e ss.

2 Cfr. C. Wright Mills, The Sociological Imagination, 1959, especialmente pag. 13 e ss.

3 Cfr. as excelentes contribuições sôbre êste tema contidas no volume Resistências á MudancaFatôres que Impedem ou Dificultara o Desenvolvimento, Introdução de L. A. Costa Pinto, Rio de Janeiro, 1960 — onde se reunem comunicações sobre o assunto, apresentadas ao Seminario Internacional convocado, no Rio de Janeiro, em Outubro de 1959, pelo Centro Latino Americano de Pesquisas em Ciências Sociais.

4 Elaboramos êsses conceitos e os aplicamos a urna situação concreta e específica no nosso estudo sôbre o Recôncavo da Bahía de Todos os Santos, já citado.

5 Alfred Métraux, “Resistances aux Changement,” Resistências à Mudança publicado pelo Centro Latino Americano de Pesquisas em Ciências Sociais, Rio de Janeiro, 1960, pag. 71-81. É curioso observar como a aparente falta de mudança nas sociedades indígenas observadas por todos os observadores em todos os quadrantes da terra — determinou urna abundante bibliografía destinada a defender ou rechassar as teses do evolucionismo e do difusionismo. Veja-se, sôbre isto, o levantamento feito por Felix M. Keesing, Culture ChangeAn Analysis and Bibliography of Anthropological Sources to 1952, Stanford, 1952. Extensiva análise do problema do ponto de vista antropológico e baseada em vasta documentação e estudos de casos, encontra-se no livro de H. G. Barnett, InnovationThe Basis of Cultural Change, New York, 1953. Tôdas as fontes antropológicas devem ser utilizadas com extrema cautela pois em regra refletem apenas, e sectàriamente, o ponto de vista culturalista.

6 Quando em 1947 propuzemos o conceito de marginalidade estrutural para explicar os problemas de transição da sociedade brasileira (Cfr. Oração aos Economistas, Faculdade Nacional de Ciências Econômicas, 1947) queríamos, em primeiro lugar, nos referir ao fato da estrutura social apresentar característicos de dois padróes — o arcaico e o novo, o tradicional e o moderno — e, em segundo lugar, ao fato desses dois padrôes, e não sòmente o arcaico, estarem ambos em crise. A nossa hipótese visava expressamente a ampliar e completar o conceito já exposto por Boeke, Dualistiche Economie, Leiden, 1930, e Fumivall, Netherlands India: A Study of Plural Economy, Cambridge, Mass., USA, 1944, que cunharam a expressáo “Sociedade dual” ou “dualista” para indicar a mesma situação transitória, deixando, entretanto, a impressão de que o padrão arcaico está em crise e no novo padráo estariam tôdas as soluçães. A dualidade consistiría, então, na coexistência de dois padróes como que hierarquizados numa escala de arcaísmo e progresso; enquanto que o nosso conceito de tnarginalidade estrutural procura capitalizar a nogáo básica que se refere á presenga de dois padrôes — acentuando, entretanto, o fato de ambos estarem em crise. Isto que pode parecer pura nuance tem implicaçães metodológicas e práticas extremamente importantes que, infelizmente, nao podemos desenvolver aquí. Sobre o conceito de “Sociedade dual” — Veja-se George Balandier, Sociologie des Brazzavilles Noires, 1955; e, do memo autor, Afrique Ambigue, París, 1957; Wilbert Moore, Industrialization and Labor, 1951. Em sua aplicagáo ao Brasil, o conceito de “sociedade dual” foi amplamente utilizado por Jacques Lambert, Le Brésil: Structure Social et Institutions Politiques, 1953, com urna versáo brasileira ampliada, sob o título Os Dois Brasís, 1959; do mesmo autor, “Les Obstacles au Développement Provenant de la Formation d'une Société Dualiste” incluido no volume Resistencias a Mudanga, op. cit., pag. 27-50; para urna outra formulacáo do conceito de “Sociedade dual”, vejam-se os seguintes trabamos de Alvin Boskoff — Social Indecision: A Dysfunctional Focus of Transitional Society (edicáo mimeografada de FLACSO, Santiago, sem data); “Postponement of Social Decision in Transitional Society”, Social Forces, March, 1953, No. 31, pags. 230-231; “Social Indecision in Two Classical Societies”, Midwest Sociologist, spring, 1953, No. 14, pags. 10-17.

7 Cfr. T. Lynn Smith, “The Cohesiveness of Social Systems — A Factor of Resistance to Social Change”, Resistencias a Mudanga, op. cit., pags. 147-156.

8 J. A. Silva-Michelena, “Factores que dificultan y han impedido la Reforma Agraria en Venezuela,” Resistências à Mudança, op. cit., pags. 135-146.

9 C. Wright Mills, “Remarles on the Problem of Industrial Development”, Resistencias á Mudança, op. cit., pags. 281-288.

10 A bibliografía sobre o assunto é vastíssima. Fontes gerais para o estudo da estratificação social em países subdesenvolvidos encontram-se nos levantamentos bibliográficos feitos pela equipe do Centro Latino Americano de Pesquisas em Ciencias Sociais, referentes á Argentina, Uruguay e Chile. (Publicaçães No. 5, No. 6 e No. 17 da serie científica do Centro). Referente ao Brasil é o levantamento feito pelo Professor W. Bazzanella, publicado em 1957, e que serviu de modêlo às demais. Quatro capítulos, que constituem a Quarta Parte do Volume Sociología e Desenvolvimento (no prélo) foram por nos dedicados ao problema da estratificacáo e mobilidade social ñas sociedades em desenvolvimento. Veja-se, também, no Boletim do Centro Latino Americano, os trabamos de E. Fonseca Hortos e L. A. Costa Pinto (Ano II, No. 3, Julho de 1959, pags. 11 e ss.) e de Fernando Henrique Cardoso (Ano III, No. 3, Agosto de 1960, pags. 15 e ss.) Em particular, sobre o problema dos “évolués” ñas antigás colonias africanas, veja-se G. Manoni, Psychologie de la Colonization, 1951, e L. A. Costa Pinto, “Os Planos de Desenvolvimento Econômico da Africa”, Digesto Econômico (Sao Paulo), Maio, Junho e Julho de 1950.

11 Êste conceito é amplamente discutido no livro Sociología e Desenvolvimento, cit.

Sôbre as implicações políticas do desenvolvimento, tendo em vista sobretudo a América Latina, veja-se Gino Germani, Política e Massa, 1960, edição da Universidade de Minas Gerais. Ali se encontram por sua vez, abundantes indicacóes bibliográficas. Cfr. também, “Latin America's Nationalistic Revolutions”, The Annáls of the American Academy of Political and Social Science, March, 1961.

12 Ao problema da empresa referem-se em regra, os compêndios que tratam do desenvolvimento econômico stricto senso. Para desenvolver a abordagem sociológica do problema recomendamos as seguintes leituras: Arthur H. Cole, Business Enterprise in its Social Setting, Cambridge, Mass., USA, 1959. O periódico Explorations in Entrepreneurial History publicado pela Universidade de Harvard apresenta boas contribuições ao assunto. Veja-se, também, de Mario Wagner V. da Cunha, Burocratização da Empresa Privada, Sao Paulo, 1951; Otavio Ianni, “Dilema da Burocratizacáo no Brasil”, Boletim do Centro Latino Americano de Pesquisas em Ciencias Sociais (Ano III, No. 3, Agôsto de 1960), pags. 7-14. Sôbre problemas de relações humanas e mobilidade profissional na emprêsa comercial privada, veja-se L. A. Costa Pinto, O BalconistaEstudo Sociológico de Urna Ocupacão, Rio, 1954. Sôbre a organização interna da emprêsa em relação com a estrutura da sociedade já são clássicos os estudos sociológicos de C. Wright Mills, White Collar, Oxford, 1951 e de William Whyte Jr., The Organization Man, Doubleday, 1956.

13 Recomendamos sobre o assunto os trabamos publicados pelo Centro Latino Americano, de autoría do Dr. J. Roberto Moreira: Educação e Desenvolvimento no Brasil, 1960; “Educação e Desenvolvimento na América Latina”, 1960; “A Educação e as Resistencias as Mudanças Sociais”, Resistência á Mudança op. cit. pags. 301-326; assim como os artigos aparecidos no Boletim, números diversos. Veja-se, também, o capítulo sobre Educaçõo do volume Sociedades em MudancaEstudos sobre a América Latina — a ser publicado em 1961 pelo Centro Latino Americano, com contribuigóes de T. P. Accioly Borges, W. Bazzanella, Joseph Kahl, J. Roberto Moreira e L. A. Costa Pinto.