Published online by Cambridge University Press: 02 January 2018
Estados sociológicos recentes têm procurado salientar que nas economias de modêlo exportador, baseadas no sistema de plantacões tropicais e no trabalho escravo, o grande proprietário rural geralmente se converte em comerciante que vende para os mercados externos os seus próprios produtos. Segundo essa tese, nesse tipo de sociedades não se constituiría urna elite de mercadores individualizada e consciente dos interêsses próprios, distintos dos da aristocracia rural.
Parece-nos que seria interessante analisar comparativamente duas comunidades de mercadores inseridas em sociedades coloniais do tipo “plantation” com o objetivo de verificar a validade dessa tese.
Rio de Janeiro e Charleston, portos de escoamento de produtos tropicais e de entrada e redistribuição de escravos africanos, de importação de produtos manufaturados de origem européia e de trânsito de um próspero comércio de cabotagem de gêneros alimentícios, oferecem urna base para a comparação.
1 Myrian Ellis, Contribuição ao Estudo do Abastecimento das Áreas Mineradoras do Brasil no século XVIII, Ministério de Educação e Cultura, Rio de Janeiro 1961. (No contrato de 1742 as estradas velha e nova renderam 737.740,80 quilos de ouro, as de Bahia e Pernambuco 501.350,40, a de Goiás 221.184,00, a de Cuiabá 36.864,00, a de Paranaguá e Paranapanema 7.372,8.)
2 Arquivo da Torre do Tombo “Livro de Lembransa das Entradas e Sahidas das Frotas Portuguesas e outros navios para a América e outros Estados da India”, Junta do Comercio, Caderneta 467, No. 74, Códice de 158 folios.
Eulalia María Lahmeyer Lobo, As frotas do Brasil, Jahrbuch fur die Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesselchaft Latein Amerikas Köln, 1967, volume 4, pp. 465 a 488.
Nesse período 1539 navios mercantes e 110 navios de guerra, e iates entraram em Lisboa. A média anual de entradas foi de 61.5. O comércio parece ter seguido urna norma de ciclos menores de curta duração. 1739 foi o ano de menor número de entradas do período de 24 anos (1739 a 1763) enquanto que 1740 foi o de máximo. O tráfico com a Ésia correspondeu apenas a 43 entradas, tendo os navios em 24 dessas viagens parado na África e Bahia. A media das entradas de navios provenientes do Rio foi apenas ligeiramente menor (16) do que a da Bahia (22.9) que fôra o principal pô;rto. A média de navios mercantes do Rio foi de 14. Houve 35 entradas ao todo de navios de guerra, 4 de iates e 4 de avisos, sendo que os primeiros transportavam boa parte de carga mais preciosa, o ouro.
Pode-se ter urna idéia do valor da carga da frota do Rio pelo documento do Códice Costa Matioso (fôlha impressa número 505) Biblioteca Municipal de São Paulo, transcrito por Boxer, Charles Ralph, The Golden Age of Brazil, University of California, Los Angeles, 1962, pp. 351–352 Google Scholar.
3 Boxer, Charles Ralph, “Brazilian Gold and British Traders in the First Half of the Eighteenth Century,” Hispanic American Historical Review 49, no. 3, August 1969 CrossRefGoogle Scholar.
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13 As listas de comerciantes por atacado encontram-se nos Almanaques Históricos de 1792,1793, 1794, 1799, publicados na Revista de Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vols. 266 e 267, Janeiro, Marco e Abril-Junho, 1965. As listas de concessóes de sesmarias encontram-se ñas seguintes publicaçães: Relação de Algumas Cartas das Sesmarias concedidas em território da Capitania do Rio de Janeiro 1714-1800. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, 1968, Publicação do Arquivo Nacional, vol. XI, 1911, pp. 225 a 229. Publicação do Arquivo Nacional, vol. V, 1906, pp. 6 a 18, Publicação do Arquivo Nacional, vol. XXXVI, 1939, pp. 241 a 330.
14 Converse Dilworth Clowse, “The Charleston Export Trade,” tese apresentada em 1963 (mimeografada). Fornece minuciosos dados quantitativos sôbre o volume do comércio de Charleston.
15 Converse D. Clowse, “The Charleston Export Trade,” 1963.
16 Abstracts of Wills of the State of South Carolina, 1670-1740, v. 2 (com pilados e editados por Carolina T. Moore e Agatha Aimen Simmons), Columbia, 1960.
17 “Memorial of the Merchants and other inhabitants of Charleston city and Port in behalf of themselves and several merchants of Great Britain who trade to and have considerable effects in the province,” Calendar of State Papers, Colonial Series, America and West Indies, 1722-1723, London, 1934, pp. 350 a 354.
18 Calendar of State Papers, Colonial Series, America and the West Indies, 1728-1729, London, 1937, pp. 845 e seguintes.
19 Jr.Rogers, George C., Charleston in the Age of the Pinckneys, University of Oklahoma Press, 1969. Indica o aspecto cíclico do comércio de Charleston, pp. 30a31Google Scholar.
20 Charleston Archives, “The Copy Book of Letters of Robert Pringle,” vols. 1, 2 e 3 (manuscrito).
21 “The Copy Book of Letters of Robert Pringle,” vol. 1, pp. 50-51, vol. 3, p. 712, vol. 4, pp. 745 a 748.
22 Robert M. Weir, “Liberty and Property and no Stamps, South Carolina and the Stamp Act Crisis,” tese apresentada na Western Reserve University, 1966, apendices A e B (datilografada).
23 Schlesinger, Arthur, The Colonial Merchants and the American Revolution, 1763-1776 (New York: Atheneum Publishers, 1968), pp. 467–528 Google Scholar.
24 South Carolina, State Archives, Columbia, Duties on Trade at Charleston, 1784-1799 (microfilme número 6, datilografado), pp. 14 a 17. O tipo e volume de comercio se mantiveram estáveis nesse período.
25 Em 1770 a população de Charleston foi estimada em 5.000 brancos e 5.800 negros; em 1775 em 14.000 habitantes, e no censo de 1790 figura com 16.920 (8.089 brancos e 8.831 negros). Sellers, Leila, Charleston Business on the Eve of the American Revolution, Durham, North Carolina, 1934, pp. 11 a 15Google Scholar.
A população do Rio de Janeiro foi avahada em 12.000 habitantes em 1713 e em 1751 em 50.000 ( Beauchamp, Alphonse, Histoire du Brésil, Paris, 1815, v. 3, p. 396 Google Scholar. de la Caille, Nicolas de Louis, Journal Historique, Paris, 1763, pp. 119–134 Google Scholar. Osdados de outros autores sobre foreas militares dão apoio a essas estimativas).
Alden, Dauril, “The Population of Brazil in the Late Eighteenth Century. A Preliminary Study,” Hispanic American Historical Review 43, 1963, pp. 173 a 205CrossRefGoogle Scholar. Nesse estudo o autor assinalou urna população de 216.000 habitantes para a capitania do Rio de Janeiro, baseado ñas estatísticas do período de 1772 a 1782, o que representaría cerca de 13.87% da populacáo da regiáo colonizada do Brasil nessa época. Minas Gerais teria urna populacáo de 320.000 (20,5%), Goiás 55.000 (3,5%), Mato Grosso 30.000 (1,5%). Sao Paulo 117.000 (7,5%), Santa Catarina 10.000 (0,6%), Rio Grande do Sul 20.000 (1,3%).
O Rio de Janeiro abastecía em parte ésses mercados, principalmente os das zonas de mineracáo.